RENATA BUENO LIDERANÇA POLITICA NA ITALIA, TEM ARTIGO PUBLICADO NA GAZETA DO POVO.


Uma lei de 2001 do falecido ministro Mirko Tremaglia permite aos italianos espalhados pelo mundo votar em candidatos ao Parlamento domiciliados fora da Itália. Com isso, a Lei Tremaglia facilitou a participação política de filhos e netos de italianos que vivem longe da pátria, descendentes com dupla cidadania que têm a prerrogativa legal de enviar para a Itália deputados e senadores – que representarão seus interesses no Palazzo Montecitorio e no Palazzo Madama, as sedes da Câmara dos Deputados e do Senado italianos, respectivamente.
A primeira eleição de parlamentares residentes na América do Sul para as duas Casas ocorreu em 2006, quando o piemontês Edoardo Pollastri tornou-se o primeiro cidadão no Brasil a ocupar um cargo de senador, em Roma. Em fevereiro de 2013, 90 mil dos 250 mil eleitores habilitado puderam votar em candidatos residentes no próprio país. A novidade foi que, pela primeira vez, foi eleita uma brasileira nata como deputada na Itália.
Mas, afinal, qual é o impacto disso no contexto das relações entre brasileiros e italianos? A eleição de uma cidadã nascida no Brasil para o Parlamento da Itália muda alguma coisa?
O primeiro bom efeito dessa eleição inédita, na minha perspectiva, parece ser aquele verificado na mídia brasileira, que, – por causa ou não da raridade do fato – cedeu mais espaço aos eleitos pela América do Sul do que em anos anteriores. A segunda repercussão é que a chegada a Roma da primeira brasileira nata aproxima os ítalo-brasileiros das suas origens num sentido mais amplo. Eles agora têm uma representante que entende suas dificuldades e por isso é mais sensível aos seus problemas e necessidades. Uma deputada que já foi bolsista, que há dez anos estuda na Itália e cuja experiência de uma vida entre o Brasil e o país europeu pode ser útil não apenas à comunidade, mas a todos os jovens e empreendedores brasileiros. E que sabe, ademais, que o processo de reconhecimento da cidadania italiana precisa de uma maior agilidade da rede consular italiana no Brasil.
Uma dupla agenda, portanto, se abre para todos a partir de agora. O trabalho em Roma, onde já propus alterações na lei para beneficiar com a cidadania os filhos de mães italianas e pais estrangeiros nascidos antes de 1948, e o trabalho no Brasil, onde, além do fomento aos intercâmbios na esfera da pesquisa acadêmica e do comércio, nossa meta é criar uma cultura política que reforce com linhas mais firmes os antigos vínculos entre dois povos que há quase 150 anos foram costurados pela imigração.
É nesse contexto que inicia, no próximo final de semana, a terceira edição do “Mia Cara Curitiba”, evento realizado pelo Consulado da Itália e a Universidade Livre da Cultura. Durante duas semanas, convido os curitibanos a respirar a Itália e seu teatro, música, cinema e gastronomia. Fatos como a consolidação do “Mia Cara Curitiba” e o da eleição de uma brasileira nata para o Parlamento italiano nos ajudam a perceber a chegada de uma nova e fundamental etapa nas relações entre dois países que se amam. Exceto, talvez, durante os 90 minutos de uma final de Copa do Mundo.
Renata Bueno é deputada na Itália.

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